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No mundo

julho 28, 2011

Por onde andas?


Onde anda a saudade?
No oceano da minha alma
Onde meus pensamentos são como
Algas ou peixes
Que se movem em busca de alimentos e vida
Perpetuam-se como a salinidade das águas que agora são a mim
Como o sangue que corre em minhas veias e artérias

Onde anda a resignação?
Em não saber por onde tu andas
Em meio à dúvidas que açoitam meu consciente
Minha lembrança que não se resvala de ti
Suas palavras e voz que não desistem de mim
Apenas ecoam em meu coração
E persistem em lembrar-te devido à tua ausência...

Onde anda a amizade?
Densa e cega e como luz brilhante que ofusca meu acordar
E apesar dos dias lindos de sol e amenos do frio
Estes continuam gélidos e cinzas por não poder te encontrar
E fazem da minha tristeza a matéria prima voraz das minhas letras e frases
Não ditas ou inexprimíveis ao meu sentir

Como um farfalhar que inquieta minha alma
E cimenta minhas esperanças em ver-te ou ler-te novamente...
E o que dizer das certezas?
Estas não tão sólidas como a rocha
Não tão vaporizadas como água em ebulição
Apenas líquidas em esperar-te para dizeres que ainda vives...



(Dedicado À Ricardo Vichinsky, que não aparece...)

julho 25, 2011

A moça do sinal




A moça do sinal
Tão linda, angelical
Fenomenal
Com malabares, bicicleta
Indignada, agora inquieta
Com a chuva, um temporal
Enquanto para nós,
Presos no sinal
Mais uma chuva banal...

E seus traços certos
Roupa de circo
Sua pele alva, boca pequena
Resignada, olhar altivo
Foi-se embora, saiu de cena

E eu ali, que estava em dilema
À procura de um tema
Sem mais problema!
E ela, cansada da vida insossa
Mal sabia a moça,
Que ía virar poema...

julho 23, 2011

Inventora das paixões



És mesmo a inventora das paixões!

Teu corpo exala sentimentos de amor.

Tuas palavras envolvem as almas inocentes.

Sinto um incômodo ciúme!

Tem de mim meu coração frágil.

Amo-te assim sem pensar, meio sem saber.

Pareces-me reprimida ainda,

Percebo vestígios de correntes em teus braços.

Um pequeno ponto de ferrugem se prende à tua pele.

Em teus olhos ainda há rastros de lágrimas.

Por isso inventas? Recrias teu mundo?

Não precisas mais!

Porque tudo agora será natural, próprio da tua humanidade.

Os teus traumas não existirão mais, nenhum deles.

Zaratustra pode celebrar em paz a vida plena.

E sem as amarras do medo deve começar trilhar o seu próprio caminho.

Já viveste muito do caminho enfadonho do outro.

Quero muito ver o brilho dos teus olhos em teu novo céu.

O céu verdadeiro, genuíno, sem ilusões.

Apague o pensamento sombrio do passado

Não ressuscite nenhuma existência trágica. Por que faria isto?

Não te esqueças dos teus sentimentos, não são apenas teus.

São de todos os mortais.

Por um momento podes sentir frio ou calor.

Em outro instante encorajar-se totalmente e esvaziar-se do temor.

Lembra-te: é a inventora das paixões, é um elemento da natureza.

Surgiste humana com o único objetivo de ser livre por inteira.


*Homengem do meu colega Deddy Antônio, do RL, a mim

Amei, muito obrigada! Muito bom saber que me faço entender. Bjos!


julho 20, 2011


Um outro mundo, outro lado

Uma outra voz que não a minha

Sentimentos recauchutados

Seria isso o motivo da sua ausência?

Ou a beleza da tua mocidade que não suporta

Meus disparates?


Uma outra flor, outro brilho

Que não os dos lírios que colhi

Pensando em você, em nós

Se haveria possibilidades

Ainda que remotas, porém ternas...


Um outro engano, a morte

De sonhos e pureza que tinhas de mim

Da dor que te dilacera o tálamo

Que dilacera o mais íntimo de ti

Por saber e fingir-se de indiferente


Uma outra face, uma página

De palavras que ficaram

De beijos e abraços que não foram dados

De um carinho sem fim

De um bem querer sereno e cúmplice

De nós dois, que nunca nos vimos...

Você está em mim


Você está em mim


Sem querer justificar ou perguntar quaisquer coisas,

Sem querer imaginar seu ar de indiferença ou quem sabe uma leitura apressada,

Louco para acabar logo com a obviedade que me corresponde

Sem querer que você goste ou se impressione com algo que eu te fale,

que demonstre ou denote enfim o q não seja tão próprio de mim...

Viva tudo o que tem para viver, fale tudo o que sentiu!


Nunca me cansarei de escrever-te versos

E agora imagino-te como uma brisa leve, um sopro em meus ouvidos

Ao invés de uma tempestade que eu mesma criei de ti

Quando na verdade você é apenas um menino

Ou quem sabe um homem em busca de algo

Que há muito já não procuro ou questiono, apenas em letras,

poesias tentadas e feitas

Apagadas e rarefeitas...


Curta seus apegos e desapegue-se do que vá contra o que você acredita

E quem sou eu para conselhos te dar?

Quem sou eu a não ser uma defensora de sentimentos

que só sabem erguer andaimes e construir pontes de concreto

até chegar em você, tão longe e oblíquo...?



Quem sou eu que você em nada crê que seja verídico,

E talvez nem as poses que faço e sorrisos que dou são críveis à você

Quem sou eu que muito erra, pouco faz, nada zela, tudo perde, pouco sente?

Quem sou eu, que brinca de ser menina moça, brinca de ser vento forte

Brinca de ser jogos de azar, brinca de te amar?...


Quem sou eu? Que imagino teu olhar,

Consigo perceber suas paixões momentâneas por letras femininas diversas

Quando a que você mais deseja não está com você,

E mesmo sabendo que nunca seria eu , pois jamais haveria possibilidades para mim...

De tão somente olhar fixamente em teus olhos

E fazer-te um carinho em seu rosto ao som de uma música qualquer...


Que despertasse a sua pouca percepção de meu nome,

Que te emocionasse de forma pura e benigna

Sem rancor, sem indiferença, sem maus pensares,

Sem avesso, contrariedade ou perguntas e respostas inviáveis,

Sem medo, sem também furor ou agonia,

Apenas um bem querer momentâneo

Como no início, em que atentamente lia meus dizeres e ria de mim,

Sorria dos meus trejeitos, via-me como uma jóia...



E ainda que eu escreva e medite e anseie e me vista e coma

E estude e trabalhe e seja vertente de muitos ao meu lado

Que me adianta sê-lo, se o que mais eu desejo longe de mim está?

E o espaço físico não importa mais,

importa que seu coração se vista de mim...

Sem me enterrar jamais...

julho 18, 2011

E neste exato momento em que ele terminou o seu discurso ela simplesmente pensou e rascunhou:

Minha segurança

Está em cada vez que te sinto

Cada vez que passamos momentos únicos

Ela chega de mansinho

Vai se aninhando

E eu me mostrando

Tu me ensinas a aceitar que eu seja amada como sou

Que eu seja sentida a longo prazo

Em doses homeopáticas

Ou quem sabe manipuladas

Sem pressa, apenas firmeza

E desejos e gostos se misturando

Nuances ciclotímicas se alternando

Em meio ao seu linear sentir e parecer

Que me molda e me abrange

Enlouquece meus sentidos, Enobrece meu mais puro dos sentimentos

Diz verdades sobre homens que talvez muitos não admitam E loucuras sobre mim que nem mesma eu sabia

Acalenta-me , sinto-me segura e passional

E confiante em teus braços que

Percebem meu pulsar e carência de ti. Descubro o que preciso: Sentir-me frágil em braços fortes e beijar sua boca que não me diz mentiras, apenas nossas próprias e fortes verdades: Que não quero mais príncipe encantado ou homem inventado Quero meu momento sacerdotisa, Não uma extensão dos meus desejos Quero a verdade que surge de ti e esvazia meus sentimentos mais embasados

E assim você é para mim... Faz-me admirar a verdade sobre mim que existe em você E por isso te amo...


Nossos detalhes

Quero lembrar de cada detalhe, cada toque
Cada olhar e menção de meu nome em teus lábios
Nossa intimidade se aflorando
Florescendo em meio ao nosso mundo
De ilusão e clandestinidade

Quero lembrar das tuas firmes e mãos macias
Pequeninas e delicadas
Mas firmes em me possuir
E declarar-me vontade
Elogios à vontade
Esquece-te da vida real
E abasteça-te da minha pouca lucidez
Porque dizes que já me conhece

Dos meus sentimentos não tens pressa
Mas tua carência lateja por dizeres meus
Cumpro tua vontade, mas sem querer preocupar-te
E enquanto eu chorava de saudades
Tu ansiastes por mim
E eu assim...
Tão ansiosa e tão amorosa...

E meu amor assim...lindo e tão engraçado
Como gostas de fazer-me rir...!
Como gostas de fazer-me impressionar...!
Como gostas de fazer-me amar...!

Então te amo

julho 14, 2011


Registro de amor


Friamente e sem libertar seu grito de paixão
Assim você se mantém
Em seu prumo, porém sem medo
Despretencioso, quer gostar
Não tem medo de errar
Pela milésima vez se aventurar
E não me falar de desejos antigos
Mas dos presentes e despudorados
Enche-me com esses sim
E não tem vergonha, assim como eu,
Que me admiro em até gostar
E achar engraçado
E então percebo...
Percebo que talvez sejamos certos
Em momentos errados
Espaços concisos
E universos distantes
Somos seres errantes...

Sei que é amor

Sei que amo...
Porque te aceito como és
Com as palavras prontas
E frases feitas de tua boca,

Sei que te amo...
Pelo que aceito de ti,
Pela tua sinceridade em me iludir,
Pelo teu jeito doce de ser-me amor

Sei que te amo...
Porque jamais imaginei tal sentir
Vindo de mim para ti
E fugindo da razão,
para assim subsistir...

E sei que é amor...
Porque não tens medo de mim
Não foges da minha loucura
Apascentas meu furor
Por isso sei que é amor...

julho 13, 2011


Meu amigo

Onde está ele, meu amigo?
Onde está aquele que me ouve
Aquele que me liga sempre
e me acorda com mensagens carinhosas?

Meu amigo partiu, não deixou recado
Meu amigo se ausentou
e meu coração sentiu...
Agora luta entre a dúvida e longínqua certeza
de que apenas não está por aqui
Apenas partiu, partiu...

Partiu para campos novos da poesia
Partiu para em breve fazer-me surpresa
Partiu para beijar-me ao chegar...






Dia sujo

Naquele instante eu ainda tinha amor...

Eu conseguia senti-lo e vislumbrar

Em ti e em nós, uma aura extasiante e esperançosa

De algo que sobreviria àquela paixão de criança

Onde apenas teus olhos fixavam os meus

E entre um bom dia ou como vai eu me distanciava dele

E tantos e quantos momentos tiveram que anteceder

O que eu nem mesma sabia no que isso se transformaria

Uma alquimia de vivência e secretos sofrimentos

Apenas pertinentes à nós...

Mas que ao enlaçar de nossos destinos

Essa experiência de transformar pedras em ouro

Só fora evidenciada e sonhada por mim

E eu nem acreditava tanto,

mas você me fez crer que poderíamos

Ainda lembro do teu beijo doce e teu carinho

Em me proteger e me ver como mulher sua

Em teus toques e gentilezas, palavras

Promessas, desejo, eternidade, cumplicidade

Ainda lembro daquele seu último carinho em meus cabelos

E quando eu sentei em seu colo,segura e confiante, totalmente entregue

Eu me levantei e parti...

E não me pergunte mais porquê

Os porquês são como facas afiadas

Eles exigem respostas que muitas vezes machucam

Ferem o peito e o atravessam o coração...

Não pergunte por quê a quem nem mesmo sabe

O que significa tal palavra, mas que teve respostas

Infiéis e dignas de arrependimento

Porque não soube esperar e apenas apreciar aquele doce momento

Em que você afagava seus cabelos...

E você chorou...


Epifania de sentidos

Acordei ausente, latente
Ouvindo a mesma música repetidas vezes
Lembrando dos sonhos que tive à noite
Ela tem sido fria e de sono intermitente...

Não saberia definir-me, rotular meus sentidos
Não saberia por que chorar ou por quem
E talvez até procure motivos para tal
Porque eu sei quem sou,
Apenas a inventora oficial das paixões...

Talvez poucas vezes tenha me sentido assim
Apenas vivendo e me ausentando
De mim mesma...
E às vezes ela parece que quer voltar
e dar aquele grito! Mas eu a tenho sufocado...

Sei que não tenho coração...
Ou talvez um frio e cruel, insensível...
Aparente de carne, mas que me impede
De derramar lágrimas...
De amar e acreditar novamente...
De pensar que ainda há saídas para mim...

E talvez exista uma porta fechada
Que esteja à minha espera
Para que assim ela se abra
E entre a luz, a aurora ...
E que esta brilhe, brilhe
Até se tornar ofuscante
Aos meus olhos, ao ponto de não mais
Poder resisti-la,
Apenas sucumbir...

julho 06, 2011


" Naquele dia ela acordou inspirada e sem querer  foi  escrevendo coisas para ele que condiziam à ela, mas através do que ela achava que sua fonte de inspiração pensava sobre seu verdadeiro eu... Pois ela se vestiu da sua própria fonte e conjecturou tudo o que ele não lhe falara pessoalmente ...Ou talvez só existisse na cabecinha dela..."


Mas ela é um misto de sensações, ora ruins, talvez pouco boas
E na maioria das vezes uma incógnita
Como se ela percebesse que errou e mudasse de ideia...
Aos poucos , com sua malícia ou quem sabe, sua verdade que se aflora
Ela vai dizendo e escrevendo coisas que me cativam,
Mas eu já não sei se são verdadeiras...
Talvez eu nunca saiba
Ela é como um personagem que não me assusta,
Mas também não me surpreende...
Não odeio, mas também não sinto nada além de bem querer...
Não me convence
Ou quem sabe convence apenas o que também sou lá no fundo,
E agora já é tarde, pois quem sou eu lá no fundo a não ser alguém que um dia acreditou em coisas bonitas e singelas?
Mas que hoje, adulto, já não me iludo mais com palavras
E nem sequer sentimentos que me despertam dúvidas.
Hoje eu acredito nas pessoas que sempre foram o que foram desde sempre para mim...
Lineares, corretas e sem nuances loucas
E sendo assim acredito em apenas uma ou duas no máximo, que são aquelas que condizem com minhas reais percepções...
Mas por que continuo a querer desvendá-la?
Não como homem, mas como espectador dos devaneios humanos,
Da eterna roda gigante das sensações que nela preside,
Do mar de contradições e pouca elegância,
Que entre palavras fúteis e de baixo calão(ou escalão) ela vem e também sabe dizer coisas bonitas, nobres e fiéis a si mesma...
Quem é essa mulher? Que é um misto de indefesa com o mais puro do sarcasmo?
Que no início a via como pura e ela se revelou muito além das minhas expectativas como ser humano independente,
Porque ela vai se aninhando em nosso mundo, nos sufocando com suas asas e alimentando nosso ego e por muitas vezes o destruindo...
Quem é ela? Que vai engolindo as pessoas, a vida delas, os seus próprios pensares e tudo que gostam...?
Vai se vestindo dos ideais que não são dela, porque ela mesma já não sabe quem é e quais são os seus.
Precisa se clonar diante de pessoas que ela mesma elege e seleciona para serem seu estereótipo ideal....
Ela é inteligente e sagaz, fria e ora tão doce e meiga, verdadeira...
Mas é difícil já acreditar em suas palavras, porque ela tem o dom de nos persuadir.
Mas eu já não me engano e não me sensibilizo, como disse...
Sou um mero espectador das essências e devaneios humanos.
E faço dela a minha melhor experiência:
Como não se enganar com uma mulher...ou quem sabe...Como tirar ao máximo proveito do dom inspirador da mesma...


Sigo frio e intocável, mas não porque quero que ela pense isso, porque sou! Com ela e com pessoas vazias ou
quem sabe, muito cheias de si mesmo.
E não que eu não o seja, mas prefiro manter a ordem e confesso que fico farto dessa mania que as pessoas tem de se enganarem
E ela é assim...
Quer entrar na cabeça dos outros e persuadir o que nem mesmo sequer chegamos a pensar e mesmo que tenha pensado,
Isso me irrita e me deixa pouco sossegado...
E nem eu sei porquê, mas na cabeça dela com certeza pensa que ísso é uma forma de eu me reaproximar. É um artifício que ela usa para conhecer a si mesma e tentar me comover de alguma forma ou tentar me fazer dizer coisas que não sinto vontade ou até sinta, mas não queira.
E já estou me cansando disso, dessas trocas egoístas,
Onde só eu escuto e só eu sou o questionado e na maioria das vezes de forma errada.
Ela é chata, se ofende com as verdades que eu digo a ela, mas não se importa com os absurdos que ela diz a todos.
Quer toda a atenção para ela. Sua carência e latência em ser amada sufoca as pessoas e as deixa talvez desinteressadas. Sua obviedade sexual causa repulsa muitas vezes, porque ela usa isso para se impor e se autoflagelar ao mesmo tempo.
Não sei porque ainda insisto nisso, só queria que ela se olhasse no espelho e se sentisse não na minha pele ou na dos outros,
Mas principalmente, na sua própria...

(Devaneios ...)

julho 04, 2011


Em meio à tantas dúvidas e embaraços, sua cabecinha parecia que ía dar um nó às vezes e ao mesmo tempo em que era uma menina normal, ela mesma se achava diferente em vários aspectos. Não que se sentisse melhor ou pior que as outras da sua idade, apenas diferente. O mundo espiritual muito lhe instigava e ela gostava de mexer com essas coisas. Filmes de terror, brincadeiras do copo, uma postura meio gótico-infantil, eu diria...rs
Nesta época ela já devia ter seus dez, onze anos e foram morar em uma casa de dois andares que tinha um sótão e uma laje muito alta onde abrigava as caixas dágua. Havia uma pequena escadinha que ela subia e por lá se refugiava, principalmente quando fazia coisas erradas e sua mãe queria bater nela. Aos poucos foi se tornando seu "submundo", onde por lá só levava sua amiguinha mais chegada e escrevia, mexia com as pessoas na rua ou apenas ficava por lá pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Seus pequenos segredos ela levava pra lá, assim como suas superstições e suas bonecas. Às vezes ela levava também seu cachorrinho e ria porque ele ficava com medo de cair e se agarrava à ela com as unhas e com força sem ao menos ela precisar segurá-lo! rsrs O nome dele era Pelezinho, um beagle todo pretinho que algum tempo depois morrera envenenado, pois ele era arteiro e fugia de casa e quando voltava geralmente estava cheio de pulgas e sujo. Então ela decidiu colocar uma coleirinha com os seguintes dizeres: "Meu nome é Pelezinho. Moro na rua Sousa Cerqueira, 58-Piedade" E sempre aparecia um trazendo ele de volta.


Ela não conseguia entender, mas para ser mais clara ela se achava diferente porque via "coisas". Muito estranhas...Ela falava, mas ninguém acreditava! Até que seus pais começaram a perceber sua introspecção e tristeza. Ela tinha medo de tudo e começou a se enclausurar dentro de casa e apenas sair para ir à escola. Rezava seu tercinho todas as noites e dava graças a Deus quando amanhecia, pois tinha medo dos sonhos e das vozes que ela ouvia. Nesta época ela já havia feito catecismo, mas ainda não era tempo de se crismar, então apenas frequentava as missas e grupos jovens, o que para ela muitas das vezes era uma tortura...(ela não gostava muito).
As coisas foram tomando um vulto estranho e perigoso e seus pais confundiam tudo. Eles achavam que ela estava doentinha. Levaram-na em todos os médicos da cidade, fazia vários exames e eletroencefalogramas...Ela melhorava e depois começava tudo de novo. Até que um dia ela acordou dizendo que sua avó havia morrido e uma hora depois seus pais receberam o telefonema que deixara todos assustados.Sua avó havia morrido realmente e ela se lembra que conversara com ela na noite anterior.

Ai! Ela estava em frangalhos! Não sabia o que pensar ou o que fazer. Não podia mais assistir filmes de terror, nada de histórias assustadoras, sua mãe a levava em rezadeira, igreja, o padre orava e benzia. Ela achava que estava possuída igual à menininha do filme "O exorcista". Ela ía para a missa e não aguentava ficar meia hora. Era como se algo mandasse ela ir embora dali, não deixava ela ouvir o padre. Um dia ela saiu correndo para casa e seus irmãos atrás dela desesperados. Ela correu, correu, correu e quando chegou nas caixas dágua uma voz mandava ela se jogar dali. Mas ela fazia um esforço sobrenatural para domar aquela força e conseguia...Mas ficava exausta, chorava, lá ía ela para o hospital e só se sentia bem quando estava em um deles, pois lá ela conseguia esquecer e dormir. Os médicos a entendiam, eram carinhosos e ouviam-na. Decidiu então que queria ser médica.
Nesta época não havia espaço para mais nada na família a não ser cuidarem dela e seu pai começou a questionar-se sobre os cultos maçônicos que frequentava...Por ela ele faria qualquer coisa, até abandonar o que ele prometera até o fim permanecer...


(Não sei se continua...rs)
IMAGENS GOOGLE

Ainda menina...

Na escola era sempre foi a mais estudiosa, a mais inteligente, a mais quietinha, a mais observadora, a mais complexada. Não gostava de soltar os cabelos(só vivia com eles presos num rabo de cavalo ou maria-chiquinha). Não olhava sequer para os meninos que a paqueravam e se fingiam de amigos só para sentarem ao lado dela. Era sempre os mais estudiosos também, mas ela só gostava dos pimentinhas. Lembro que ela era apaixonada pelo José Augusto e é claro que em silêncio sempre escrevia cartas que nunca chegariam até ele, assim como poeminhas e músicas. Tinha uma caderninho só para essas coisas e muitos nem acreditavam que era ela quem escrevia, pois ela mesma não falava disso para ninguém, muito menos para seu pai.

Aliás, em se tratando de seu pai tudo ela tinha medo da possível reprovação dele, até que um dia eis que seu pai teve que puxar suas orelhas e ralhar com ela muito sério. Ela ainda lembra da dor em seu peito , da vergonha e de todo o misto de sentimentos que chegaram-lhe ao coração. Seu pai fumava um cigarro antigo que nem sei mais se existe, chamava-se Minister e ela achava lindo ele fumando e sempre pedia para acendê-lo, o que obviamente ele ria e não deixava. Até que um dia ela estava brincando com suas coleguinhas na rua e catou diversas guimbinhas , colocou-as num potinho e foi para casa. Cuidadosamente entrou no banheiro, encheu a banheira para tomar banho (nesse apto tinha uma banheira enorme e branquinha!) e acendeu uma guimba e começou a fumar. ..rs Na verdade ela tentou, porque logo se sufocou com a fumaça e seu pai a pegou no flagrante!
_Não!!! Não faz isso, menina!-ele gritou.
Chamou sua mãe e contou o que havia acontecido e lembro que ele a colocou em seu colo e puxou suas orelhinhas, mas não muito forte, só para assustá-la. Ele ralhou com ela, lavou suas mãozinhas e ela começou a chorar. Ela era arteira e na mesma semana já havia imitado sua mãe raspando uma perna com a gilete e passado água oxigenada em seu cabelo para ficar loura. Acho que ela estava com crise de identidade...rsrs


E como seus irmãos riam dela e caçoavam. Era única filha mulher e para quem sabe o que é isso deve ter em mente o quão também ela foi meio "moleca". Jogava bolinha de gude, soltava pipa, futebol, carniça, taco, todas aquelas brincadeiras de meninos. Nesta época estavam morando em uma casa bem grande que tinha piscina e quintal e sua mãe cortava um dobrado com eles. Era uma escadinha: De três em três anos seus pais resolviam fazer um novo bebê e na tentativa de conseguirem outra menina acabaram chegando aos quatro. Sua mãe nunca foi muito paciente e era muito brava, sempre foi. Papai era mais calmo, um doce.
Ela tinha medo da sua mãe, principalmente quando fazia "coisinhas erradas". Era chinelada na certa! Sem falar que sua mãe sempre foi ótima mãe, mas meio doidinha também. Nunca esqueço como ela deixava seus filhos pequenos entrarem no mar bravio de Copacabana sem sequer ter algum cuidado. Lembro-me que a menininha passava vários "sufocos" com seus irmãos a fim de não se afogarem e às vezes gritavam por ela mas ela não via nem ouvia! Mas assim acabaram aprendendo a nadar, entre "caixotes" e litros dágua engolidos...rs
Chegavam esbaforidos na areia contando o que havia acontecido e ela ria, achava que era brincadeira. Então sentavam e pediam picolé. Naquela época não tinha muito essas coisas de helicóptero e salva vidas...Aliás, naquela época o mundo ainda era muito diferente: ingênuo, doce e feliz...


(continua)

Biografia da menina

Quando nasceu e enquanto cresceu ela se viu numa família onde era a princesinha do papai. Ele a tratava como uma jóia rara e de tudo fazia para agradá-la e fazê-la feliz.
Juntos eles desbravavam o imaginário da astronomia. Ele mostra-lhe as constelações e planetas, todos os dias quando chegava do trabalho e ela, muito afoita, pedia-lhe para colocá-la sentada na janela do prédio de dois andares. Ali ela sentia-se protegida por ele, ainda que sem grades e ela sabendo que apenas os braços de seu pai a sustinham...pois ela confiava nele.
Durante o dia ela estudava e brincava. Lembro-me que neste apartamento havia uma enorme varanda que rodeava todo ele e as janelas que abriam para o lado de fora eram seu constante alvo de cabeçadas em suas quinas , pois com seus patins de ferro e quatro rodinhas ela dava voltas e mais voltas, batia com sua cabecinha e sua mãe, supersticiosa , colocava borra de café e dava-lhe arnica. Até hoje eu acho que as inúmeras pancadas acabaram por deixá-la um tanto quanto...(maluquinha)...rs

Ela era diferente. Sentia-se assim, porque no seu inconsciente imaginava histórias e via-se constantemente nelas, um emaranhado de situações com início, meio e fim. Tinha um pianinho azul que jurava tocar sozinho durante a madrugada e muitas foram as vezes em que ela acordara seus pais para lhes mostrar que falava a verdade. Até que um dia o piano tocou! Suas teclinhas batiam como se estivessem dedilhando e seu pai, muito desconfiado desmontou o pianinho e descobriu que era um camundongo que todas as noites por dentro do piano roía suas teclinhas por dentro e causava esse som verídico, pois ele pisava nelas! Ah! ela ficou muito decepcionada, porque achava realmente que eram espíritos ou seu amigo imaginário. Deu-lhe até o nome de Frederico.
Sua melhor amiguinha era a Marília, outra menina sonhadora e um tanto quanto "macabrinha" para a idade dela. Com o tempo foi colocando coisas na cabecinha da jovem menininha, tipo histórias de fantasmas, mulher-loura e casa mal assombrada. A menininha foi tomando pavor dessas coisas, mas ao mesmo tempo sentia-se muito ouriçada por esses assuntos e fantasiava contos de terror e histórias fúnebres. Seu pai sempre ouvia-a atentamente segurando o riso e atiçando mais ainda seus devaneios. Ele era maçom e ela achava todo aquele universo lindo demais! Todas as terças ela ficava observando ele metodicamente se arrumar para ir às sessões e seu sonho era saber todos os segredos que ela sabia que existiam naquela valise preta que ele colocava em cima do armário. E um dia ele mostrou para ela. Ela devia ter uns seis ou sete anos e ficou deslumbrada! Ainda lembra até hoje: um anel muito bonito, luvas brancas de cetim, um capuz preto, kimono preto, um avental azul e branco com duas caveirinhas (tipo aquele símbolo de PERIGO), muitos livretos falando sobre uma sigla G.A.D.U, dentre tantas outras coisas, inclusive alguns símbolos de arquitetura e astronomia.
Sua mãe brigava com ela. Acho até que ela tinha ciúmes de seu pai, porque eram muito unidos e ele a defendia de seus três irmãos pentelhos que viviam implicando com ela. Aos poucos ela foi acompanhando seu pai nas sessões e festas, assim como iniciações maçônicas, mas nunca podia entrar em alguns lugares da loja(é assim que eles chamam). As festas eram espetaculares e os priminhos dela(pois todos eram primos, tios, irmãos e cunhadas), cavavam uma verdadeira maratona em busca de descoberta de mistérios e sonhos de serem maçonzinhos quando crescessem...Mas ela sabia que não poderia, pois era mulher e não podia! Mas se contentava em viver aquele mundo que era apenas do seu pai.





(continua)