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No mundo

janeiro 20, 2011


Quero escrever coisas concretas, livres de quaisquer enganos ou dúvidas.Alegrias, desencontros, descobertas, lições. Esta é minha vida, esta é a forma que encontrei de me curar: escrevendo, compartilhando,interagindo, vivendo...Isto é um diário! Minhas histórias, uma autobiografia. E hoje acordei lembrando de um seminarista amigo meu da época que fazíamos Teologia juntos. Foi um período muito maravilhoso! Eu me sentia tão pura, não no sentido de castidade (ainda que também neste sentido estava muito bem casada com um pastor de jovens). Mas eu era livre de maliciosidade, de desconfianças e insensibilidade. Eu sou feliz, mas naquela época...Nossa! Parece que consigo sentir o cheiro daquele ambiente, da época,os colegas, as horas maravilhosas que passávamos aprendendo, estudando, orando na capela,praticando a homilética(disciplina que visa o ensino da prática e técnicas da pregação bíblica), lendo, lendo,lendo. Em quatro anos li a Bíblia de Genesis a Apocalipse três vezes e confesso que quanto mais lemos e tentamos entender e interpretá-la, mais difícil parece ser descobri-la. Agora entendo porque a igreja católica romana proibia(pois hoje está muito mais acessível aos fiéis) esta prática. Porque realmente se era difícil para os eruditos e escribas, o que dirá para nós! Mas como Martinho Lutero nos garantiu que nosso livro maior era de propriedade de todos, tínhamos o direito de lê-la e interpretá-la...Bom, por um lado claro que o antigo livro proibido tornou-se hoje e tal como sempre o livro mais comprado e vendido do mundo. Em suas inúmeras edições, versões,idiomas, tamanhos e traduções. A minha é uma Thompson tradução contemporânea de Almeida,praticamente uma enciclopédia bíblica que nos ajuda a entendê-la, com mapas arqueológicos, contextos históricos, culturais e geográficos.
Mas o que quero relembrar e salientar hoje é esse meu amigo: o Marco Antonio. Bem, entre muitas coisas engraçadas que víamos e presenciávamos , mesmo sendo um seminário teológico tradicional, o Marco era uma figura quase que lendária: um "crente" meio barro meio tijolo, policial, mas que conhecia a fundo a bíblia e era presbítero em sua igreja local. Mas nós não nos contínhamos com ele, pois ele ia armado para o seminário e ai de quem discordasse das suas ideias e conjecturas. Ele só levantava a blusa e mostrava o trabuco, mas claro que ríamos muito. Até os professores, os pastores adoravam ele. Ele pegava no pé de todos, era uma criança! E uma das coisas mais engraçadas dele é que ele tinha um caderninho que ele anotava "as pérolas" dos outros seminaristas. Tipo, ele dizia que eu era a rainha das pérolas e ficava ansiosamente com lápis e caderno nas mãos quando eu me dispunha a falar ou apresentar trabalhos, interagir e expor opiniões e tirar dúvidas. Dentre as três que no dia da formatura ele "apresentou" aos colegas (e na verdade ele foi o orador e esse espaço dado a ele foi de uma alegria e comicidade geral, mesmo estando presente o presidente e lider das Ass. de Deus de Madureira , Bispo Manoel Ferreira) cito as que mais fizeram sucesso:

-A seminarista Elaine ismerim cada dia chegava com uma bíblia diferente: versão em inglês, torah(em hebraico), em grego, português. Bíblia católica, tradução do novo mundo das Testemunhas de Jeová, mas era tanta bíblia que eu pedi pra ela trazer todas no mesmo dia e claro que ela trouxe, colocou todas abertas sobre a mesa e no mesmo dia isso foi um motivo de muita alegria, porque chegamos a conclusão que ela não sabia e não entendia nem a de letras gigantes versão NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje-considerada uma das piores versões, totalmente deturpada em contextos, pois é escrita para jovens, surfistas, adolescentes, iniciantes,na linguagem deles!)
"Mas afinal de contas...o que ela está fazendo aqui?" (isso no dia da formatura...rsrsr)

- Ah, mais o dia melhor da Pastora Elaine foi quando ela chorou muito ao saber e chegar a conclusão que o diabo não existia. Isso era coisa que botaram na nossa cabeça! rsrs E que na verdade o diabo(que significa adversário em grego-diavolos) era o próprio Império romano, a que Paulo constantemente se referia. Mas isso também é uma coisa que botaram na nossa cabeça! Vai entender! Então você escolhe a linha que quer seguir: a literal ou a metafórica. E é claro que vocês já sabem o que ela escolheu...rsrs Ela queria o diabo vivo de qualquer jeito!(risadaria)

- E a terceira escolhida dentre muitas e muitas eu destaco( e que me desculpem os Católicos) o dia em que ela brigou com o professor e saiu de sala(nós rimos muito). Ela virou praticamente a advogada de defesa do Ilmo. Papa Karol Voytila, mais conhecido como João Paulo ll. Nossa! Ela o adorava! E ficou possessa quando falaram dele. Mesmo estando em um seminário protestante e sabendo que isso era contra tudo que até então acreditávamos. Bastou o professor deixar a indagação de que todos somos perdoados pela graça de Deus, até mesmo o papa, se no dia de sua morte, se arrepender e pedir perdão pelos seus pecados, ele seria salvo!
E eu , Marco Antonio, só tenho uma coisa a declarar: O PAPA É POP!! (risadaria geral)
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-"Mas e se ele não se arrepender ou julgar que agiu certo e não carece de perdão? Pois afinal de contas ele pediu perdão aos judeus diante do muro das lamentações em Israel pelo holocausto.. Gente, ele era bom!"
-"As obras não salvam e sim o verdadeiro arrependimento e quebrantamento diante de Deus. Contudo que ele fez e foi, se não se arrepender por ter sido conivente e cooperado com a mentira e hipocrisia da Igreja de Roma, onde hoje milhões de pessoas são idólatras e cegas(não conhecem a palavra de Deus)...sinto muito, mas é para o inferno que ele vai.."-retrucou o professor.
_" Como é que é? O senhor tem coragem de dizer uma coisa dessas? Que o papa vai para o inferno? Com licença!-e saí da sala já chorando..Apontei o dedinho para o professor e disse: O papa não vai para o inferno!" E quando eu voltei para a sala mais recomposta, o Marco estava cantando a música do Engenheiros do Havaí: O papa é pop! O papa é pop! O pop não poupa ninguém! o papa levou um tiro à queima-roupa!... rsrs E nem podia cantar "música do mundo" no seminário... E onde está a hipocrisia afinal?


Este foi o diálogo que obviamente Marcos não mencionou na íntegra, mas foi exatamente isso que aconteceu e apesar de saber que tudo que o professor falou era verdade, tinha respaldo bíblico e era coerente historicamente...bem, eu não me conformei...rsrs chorei muito. Será que estava no caminho certo ou é porque eu gostava e admirava muito o papa? Nossa,estava farta de dizerem que o pobre coitado era o anticristo, ia para o inferno e coisa e tal. Podia até ser tragi-cômico, mas para mim era questão de respeito e de não julgar , pois quem somos nós para fazê-lo?

Enfim...quero muito poder um dia reencontrar esse nobre colega. Amo muito ele em Cristo e deixo aqui este texto dedicado a ele..
Presb. Marco Antonio Vaz

3 comentários:

  1. Isso é fantástico Elaine! Eu acho que substitui qualquer divã. A gente poder ,mesmo que em metáforas ou com personagens, falar de nossas vidas. Desafoga tantas coisas, relembra tantos momentos bons, resgata tantos sentimentos... A escrita on line nos permite isso ainda de forma compartilhada e faz muito bem, eu creio.

    Esta semana mesmo estou lendo um livro do Drummond que se chama O OBSERVADOR NO ESCRITÓRIO que é nada mais nada menos do que o diário em que ele mantinha suas anotações mais pessoais desde 1940 até mais ou menos a década de 70. Abração. paz e bem.

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  2. Ai, Elaine minha querida! Estou aqui rindo aos montes...rsrsrs...Que coisa boa essa fase da tua vida! Conforme eu ia lendo, participava da tua cena...hehehe...Se puder, compartilhe outras passagens tão gostosas como esta, viu?Beijinhos...Fique na Paz!

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  3. Muito bom! Beijos querida, fique na Paz!

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