...O senso estava alterado,
não o critiquei. Poderia até pensar que seria uma noite engraçada ou quem sabe
ele deitaria na cama e dormiria um sono profundo e justo. Assim a noite
começou, entre brincadeiras e sorrisos e a avidez de suas palavras e gestos,
que entre surpresa e desconfiança, tal como observadora atenta ao seu declame,
apenas obedeci e olhei ao fundo. Um espelho e ele perfeito... Em pé, nu e
narrando-me como um drama grego. Foi quando ele me tocou o rosto, sentou-me no sofá e sorriu...
“...E ficou por
ali, ébrio e nu
Despido de si mesmo
Tendo o espelho
como testemunha
Não ensaiou textos
Tampouco
sentimentos
Também não foi por
um momento, ao contrário
Eternizou-se...
Como a maior
declaração de todos os tempos...
E conversando
comigo,
Falava consigo
mesmo
Como um deságue de
rios de palavras,
Leitos e frases
jamais ouvidas por mim
E por ele
mencionadas...
A cena era de
cinema.
Nu, com jeito de
menino
Oratória como
música
Que tocava em meus
ouvidos
E ao meu olhar
revelava
O que ao meu
coração embevecia
Porque a doçura do momento
Era como oração,
enobrecia...
Meus lábios
emudeceram
Minha atenção
redobrou
Seu jeito doce e
sincero me emocionou
Porque ele me
desvelou
De maneira racional
e viril
Seu jeito másculo
me enfeitiçou
Tocou-me o sexo com
vigor
Exigiu-me dor e
calor
Domínio de poder,
jogo de amor
Foi como um
cataclisma,
Prisma
Da conquista ou
qualquer coisa assim
Um golpe de mestre,
xeque-mate da paixão
Que do inesperado
tornou-se febril
Pois que me
surpreendeu seu jeito vivo, pueril
Agora livre da frieza que a mim pareceu
Que não gostava de mim, apenas do meu corpo,
Que já era seu...
Sua alma latente de
novas frases, beijos e amor
Não pela metade,
até o torpor...
O controle do meu
corpo era dele
E eu, como flor
Escancarada de
beleza, doçura e resplendor
De sentir-me amada
sem medo, incerteza e agonia
Agora segurança,
paz, alegria...
Por momentos e
horas, deixamos o tempo lá fora
As pessoas, o
mundo, apenas o agora
Conjectura, pacto,
contrato...
O realismo
voltando,
Seria a bebida se
dissipando?
O cansaço
chegando...
E nas entrelinhas
da noite inesperada
Nenhuma pergunta se
destacava
E selamos a
parceria
Na mais alta
madrugada
Ele era dele mesmo
Dono se sua razão
E ficou combinado
Que eu seria seu
coração
Prometida pra
poesia
E viver essa paixão,
união
Agora até o fim,
Compreendida e
decidida
Independente de
tempo e espaço, mas sempre sim..
E não saberia dizer
qual seria este fim..
Se do amor, do
tempo ou do querer
Mas esta certeza de
amar
Trouxe-me novo
fôlego, calor diferente
E uma eternidade
que independe
De se estar junto e
inteiro
Mas jamais pela metade,
Porque na verdade
De que adianta estar
junto e sentir-se meio,
Quando é no meio do
caos da distância que você se reconhece em alguém como todo?"
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